Muitas vezes associamos este conceito a uma ideia negativas, mas a verdade é que manter uma rotina pode tornar-nos mais felizes. Uma psicóloga explica porquê.
A palavra “rotina” pode causar arrepios à grande maioria das pessoas. Com o passar dos anos e as mudanças que as últimas décadas têm trazido consigo, o conceito de rotina ganhou uma conotação negativa. Olhamos para uma rotina como algo estático, que nos impede de fazer coisas diferentes, de ter uma vida dinâmica e preenchida de novas experiências que nos tornem pessoas mais felizes.
Mas nem tudo tem de ser assim, e a verdade é que a rotina não tem de ser um bicho de sete cabeças nem devemos olhar para ela como limitadora. Na verdade, se pensarmos bem, ter uma rotina bem estruturada e organizada pode até deixar espaço para fazer as tais coisas diferentes, certo?
E porque é que ter rotinas é tão importante? A psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva explica que ter uma rotina impede que nos tornemos mais sedentários, ao mesmo tempo que nos deixa mais tranquilos e confiantes.
“As rotinas permitem criar uma cadência nos nossos dias, gerando uma sensação de segurança e previsibilidade, e otimizando a nossa produtividade”, diz a psicóloga. “Quando mantemos alguns hábitos de forma regular o nosso nível de esforço implicado diariamente é menor uma vez que se tratam de um conjunto de comportamentos enraizados, pelo que já não há nada a decidir nem há muita motivação a ser cativada.”
Ou seja, tudo o que temos de fazer num dia, ao ser rotina, rapidamente se torna num comportamento que já está de tal forma tido como garantido que se torna prioritário, não dando espaço para adiar aquela atividade. Um treino no ginásio, por exemplo, se fizer parte daquilo que são as nossas rotinas — sejam diárias ou semanais — passam a tornar-se um hábito que acabamos por tornar prioritário e não queremos adiar.
No fundo, é como se se mudasse um chip no nosso cérebro, que torna aquele hábito prioritário e impactante, e não numa tarefa penosa que nos arrastamos para cumprir. Ao ter esta atitude perante uma rotina sentimo-nos “mais tranquilos e confiantes, o que se traduz num bem-estar físico e psicológico”, garante Filipa Jardim da Silva.
Outra das vantagens de ter uma rotina é dedicar espaço no dia para momentos em família. De tal forma que a psicóloga aconselha a que haja espaço tanto para rotinas individuais como familiares, que se devem conjugar entre si.
“É importante que se conjuguem, respeitando as principais necessidades dos vários elementos da família e do sistema”, diz a especialista, salientando que, para que as relações e as rotinas encaixem entre si, há uma base que nunca deve falhar. “É importante que exista uma comunicação autêntica e eficaz.”
A tendência para a quebra
Claro que todos temos momentos em que queremos quebrar a rotina. Há um dia em que não temos vontade de cozinhar, deixamos a cama por fazer, adiamos a ida ao ginásio ou não fazemos aquele telefonema de grupo.
Estes tipos de situações podem acontecer, e há margem para isso. Na verdade, Filipa Jardim da Silva até diz que são saudável para nos mantermos o equilíbrio e o dinamismo nas nossas vidas. O problema, explica a psicóloga, é quando essas quebras se tornam num hábito recorrente.
“Se destruturamos os nossos dias convidamos o caos para as nossas vidas”, explica. “Promovemos instabilidade e imprevisibilidade, o que dificulta a gestão diária e a capacidade de priorizar o que realmente é impactante.”
A especialista acrescenta ainda que, a médio e longo prazo, esta falta de rotinas poderá ter um impacto negativos nos níveis de ansiedade e de stresse. Se não formos capazes de reconhecer esta instabilidade e procurar novamente o equilíbrio, alguns sistemas fisiológicos do nosso organismo que apreciam a manutenção de rotinas podem ser afetados, o que pode ter consequências significativas no nosso bem-estar e felicidade.
Mas como é que, uma vez entrando num círculo vicioso de quebra de rotinas, podemos voltar a retomar os nossos hábitos? Filipa explica que devemos procurar agir de forma coerente com os objetivos que pretendemos atingir.
“Se queremos voltar a cultivar uma determinada rotina, há que executá-la, não apenas falar sobre ela”, diz a especialista. “É da repetição que surgirá a reinstalação de um hábito ou a quebra de um comportamento que não nos serve.”
Filipa Jardim da Silva aconselha ainda a criar um sistema de recompensa por cada vez que concretizamos o hábito que queremos reinstalar na nossa rotina. Por exemplo, se conseguirmos ir ao ginásio quatro vezes numa semana, temos direito a fazer uma cheat meal. “É este ritual repetido de ação e recompensa que permite reinstalar no nosso cérebro a ideia de rotinas pretendidas.”
Por isso, já sabe, se tem estado a adiar uma ida ao ginásio ou um treino com o seu PT, fale com o seu estúdio E-Fit e agenda já a sua próxima sessão. Não deixe que os treinos deixem de fazer parte das suas rotinas.